terça-feira, 16 de dezembro de 2008

As coisas que eu preciso dizer

A gente assiste filmes e espera que nossa vida seja parecida com eles. Eu sempre achei que nós tinhamos uma ligação maior, eu achei que eu sabia quando você sofria, achei que iria saber quando algo ruim te acontecesse, porque era uma coisa que eu queria acreditar. Na verdade era algo que eu acreditava. Porque é assim que acontece nos filmes, nós conhecemos alguém especial e temos uma ligação transcedental com essa pessoa. Mas na verdade isso não aconteceu. Eu não senti quando algo ruim te aconteceu, e não senti quando você não estava mais aqui. Foi um telefonema. Na verdade quando eu vi no meu celular que a ligação vinha da sua casa, eu já sabia o que tinha acontecido. A notícia veio assim "É Ana, a gente perdeu". O telefone caiu da minha mão. Isso é cena de filme. Mas essa cena eu não queria.
Queria as cenas dos mortos que falam com você. Queria mesmo se fosse algo da minha cabeça. Queria conseguir pensar num assunto, e pensar que você diria isso ou aquilo sobre esse assunto. Mas não. Na verdade, eu sinto você tão longe, como se você nunca estivesse aqui realmente. Mas você esteve, e eu te conheci bem, acho. Mas quando me sinto triste ou quando quero falar de um assunto importante, não consigo fingir que estou conversando com você. A sua morte é tão real quanto a sua vida foi. Eu queria ser louca, queria ter alucinações. Queria parar de sonhar que você está morto. Queria sonhar que a gente estava conversando, ouvindo nossas músicas, ou vendo um filme, ou brigando. Queria sonhar que eu estava com ciúmes de você porque você não era meu. Mas eu só sonho com o que é real. Sonho que você está morto, eu te peço pra voltar, mas você não pode. Você me diz isso no sonho, e então eu choro. Minha mente tá me dizendo "ele se foi e não vai voltar" mas não sei pra que, porque eu já sei disso.
Quando o dia está asism chuvoso, como hoje, eu me lembro das épocas que eu sofria muito. Sofria sem motivos. Sofria porque eu tinha você pra sofrer comigo, e agora eu sofro sozinha. Preciso desesperadamente falar sobre o meu sofrimento, preciso falar nas conclusões que cheguei, nas idéias que eu tenho e nos meus sonhos, mas só você se interessaria por isso. As coisas estão indo embora, as memórias estão embaçadas, as histórias engraçadas perderam a graça, e as tristes eu já enterrei lá no fundo. E eu sei que eu vou perder tudo. Um dia, vai ser só a memória do meu melhor amigo que morreu. Não vou saber mais nada, vou saber que as coisas aconteceram, mas não vou saber o que eram, porque eu faço isso. Por isso, eu preciso falar agora, agora enquanto elas ainda estão aqui, antes que elas vão de vez. Mas ironicamente, a única pessoa que escutaria era você.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Das épocas passadas

Idos de 2005 pra 2006, eu tinha um outro blog. Eu tinha na época os meus quase 23 anos, estava ainda na faculdade, não tinha viajado pra Holanda, nada. Escrevi o seguinte post no meu antigo blog sobre o ano novo:

To a Century of Fakers

Esse ano, não teve post de ano novo. Não teve nada novo nesse ano. Eu acordei no dia 1o de janeiro, e era o mesmo céu nublado, as mesmas caras, as mesmas mentiras to get alive through the day, as mesmas músicas, as mesmas sensações.
Neste ano não vou emagrecer, não vou conseguir mudar as coisas que eu quero mudar, não vou ser uma pessoa melhor e nem pior, vou ser igual. Vou ser igual eu sempre fui, essa pessoa que mora aqui dentro de mim já faz tanto tempo, e que não quer sair, ela vai ficar aqui mesmo. É disso que sou feita. De mim mesma.
Passei um ano totalmente inútil, não alcancei nenhum dos meus objetivos, não dormi o tanto que gostaria, não bebi o tanto que gostaria, não fingi ser outra pessoa tanto quanto gostaria, tudo pra poder escapar dessa armadilha que o além deixou pra mim que é viver. Não consigo olhar para trás e achar um momento bom nesse ano, unzinho sequer. Um ano feito de maus momentos, maus esforços, má vontade.
Aprendi em 2005, bem a tempo, que por mais que eu tente, por mais esforço que eu faça, por mais que eu finja ouvir certas coisas e outras não, eu não vou poder transformar as pessoas em minhas. Não posso me magoar pelo que as pessoas são. E que a confusão que existe na minha cabeça, é assim mesmo, eu não vou mudar: vou sempre ser confusa. Tão confusa como devo estar soando enquanto vomito essas palavras. Que me engano com tanta frequência quanto acerto, ou mais. Que trabalhar duro nem sempre traz recompensas, mesmo que tudo der certo no final, se você não quiser que traga. Aprendi que eu devo acreditar, nossa, como eu quero, quero acreditar em tanta coisa, tanta coisa... Aprendi que as pessoas permanecem vivas umas para as outras, mas nem sempre isso é o bastante.
Nesse ano, nada foi o bastante. Acabo o ano com essa sensação de vazio, de incompleto. Acabo o ano, porque mudou de 2005 para 2006. E acho que foi só isso que mudou.


Agora, me assusto em pensar que nesse momento, 2008 pra 2009, eu acabo de ler esse post, ele fez o maior sentido pra mim, e eu achei q foi uma das melhores coisas q eu escrevi na vida. E na verdade, algumas coisas mudaram, sim, mas isso não fez a menor diferença.